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Lindenberg amplia foco e leva projetos ao interior paulista

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Sinônimo de alto padrão, companhia expande atuação para o mercado residencial de média renda

Por Chiara Quintão | Valor Econômico

Símbolo de solidez e status nos anos 70, causou certa estranheza e não passou despercebido a boa parte dos paulistanos a notícia de que uma empresa do grupo da Construtora Adolpho Lindenberg, a Lindencorp, participaria de um projeto em um dos bairros mais distantes da Zona Leste da capital. Longe dos endereços chiques e badalados dos Jardins e vizinhanças, onde a Adolpho Lindenberg ergueu prédios que se tornaram sonho de consumo da elite paulistana há 40 anos, a Lindencorp chega a Itaquera.

Há alguns anos, a Lindencorp comprou 20% do terreno da Pedreira Itaquera para desenvolver empreendimento residencial popular, com participação dos donos originais de 80%. “Foi uma oportunidade de comprar uma área bruta e barata, sem infraestrutura”, explica Adolpho Lindenberg Filho, desde 1997 no comando da companhia criada por seu pai, o arquiteto e engenheiro Adolpho Lindenberg, em 1954. Após o projeto ser apresentado à Prefeitura de São Paulo, foi decidido, em conjunto, substituí-lo por um centro empresarial. As empresas que se instalarem no local terão benefícios tributários da prefeitura.

Mas, além de uma oportunidade, o negócio revela a necessidade que a empresa teve de se reinventar, nos últimos anos, para compensar a perda de mercado resultante do ritmo acelerado de investimentos das incorporadoras que abriram capital. Parar, analisar cenários e rever estratégias é comum e fundamental em qualquer empresa, mas no caso da Lindenberg é outro sinal que não passa despercebido. Sob o pulso forte do fundador, a empresa sempre refletiu o perfil conservador do patriarca.

Chamado por muitos como o “inventor do alto padrão”, Adolpho Lindenberg está a poucos meses de completar 90 anos com uma trajetória empresarial e pessoal marcada por posições firmes, nem sempre unânimes. Empresarialmente, apostou em um conceito que tornou o seu nome em grife. As pessoas não compravam um apartamento, adquiriam “um lindenberg”. Pessoalmente, ganhou destaque por sua participação no grupo politico-religioso Tradição, Família e Propriedade (TFP), comandado pelo primo Plínio Corrêa de Oliveira.

Em uma época que os conceitos de esquerda e direita praticamente dividiam a sociedade, a TFP ocupou a direita da direita. Lindenberg era um dos membros mais atuantes da TFP, como patrocinador e pensador. Escreveu o livro “Os católicos e a economia de mercado”, no qual defende a propriedade privada, critica a carga tributária e atuação de movimentos populares ligados à questão agrária.

O patriarca ainda vai à empresa duas vezes por semana e preside o conselho de administração. “Ele não desenha mais, mas gosta de dar palpites nos projetos”, conta o engenheiro civil Adolpho Filho.

Mas assim como os conceitos políticos se tornaram coisa do passado e a TFP hoje tem uma atuação muito mais discreta, o setor de construção entrou em uma nova dinâmica com a chegada das grandes incorporadoras à bolsa. Quando a dificuldade para comprar terrenos na cidade de São Paulo aumentou, a Lindenberg buscou diversificação para outras praças do Estado. No início da implantação do Minha Casa, Minha Vida, chegou a ter participação em um projeto da Even Construtora e Incorporadora, mas avaliou que não valeria à pena atuar no programa.

Neste ano, a Lindenberg começa a entregar projetos com sua marca no interior de São Paulo. São dois empreendimentos multiuso, um comercial e de escritórios, e outro que, além dos dois segmentos, tem apartamentos pequenos de alto padrão. No ano que vem, conclui as obras de neoclássico de alto padrão lançado em 2012 em Piracicaba. Um projeto nos mesmos moldes será desenvolvido em Jundiaí, e a empresa busca áreas em Taubaté e em São José dos Campos, no Vale do Paraíba.

A construtora é a mais conhecida das empresas da holding LDI, composta também pela Lindencorp, Lindenhouse e REP. A Lindencorp, fundada em 2004, incorpora empreendimentos residenciais e comerciais. Na cidade de São Paulo, os imóveis para a classe alta são incorporados em parceria com a construtora do grupo e têm a marca Lindenberg. Já os projetos de médio padrão têm a marca Lindencorp e são desenvolvidos com outras incorporadoras.

Fora da capital, a incorporação é feita juntamente com a construtora mesmo nos empreendimento de médio padrão. Se, para os imóveis do interior, a Lindenberg tem levado o estilo neoclássico, na capital, Grande São Paulo e em Santos, os projetos têm estilo contemporâneo.

A projeção de lançamentos da Lindencorp para este ano é de R$ 600 milhões, mesmo Valor Geral de Vendas (VGV) de 2013. “Vamos manter o que fizemos no ano passado. Estamos preocupados com a Copa e as eleições”, diz Adolpho Filho, presidente da Construtora Lindenberg e diretor da incorporadora. Metade dos lançamentos será de alto padrão e os outros 50%, de médio padrão.

Para comercializar estoques das empresas de incorporação e construção, o grupo tem a Lindenhouse. Atualmente, o estoque soma R$ 350 milhões, sendo R$ 150 milhões de imóveis prontos e R$ 200 milhões de unidades em construção com mais de seis meses de lançamento. O presidente da construtora diz que a estimativa é que a Lindenhouse venda R$ 250 milhões em 2014, ante R$ 150 milhões no ano passado. A projeção para as vendas da Lindencorp é de R$ 450 milhões, ante R$ 360 milhões em 2013.

A partir deste ano, a Lindenhouse começará a comercializar, além de estoques, imóveis usados que tenham a marca Lindenberg. “A venda de usados vai contribuir para acelerar a comercialização de estoques e lançamentos”, diz Adolpho Filho.

A Construtora Adolpho Lindenberg tem capital aberto desde a década de 70, mas seus papéis têm pouca liquidez. A LDI têm 85% de participação na construtora, e os demais 15% são o free float nas mãos de investidores do mercado. A família Buazar é a maior acionista da LDI, com 40% de participação. O Banif detém 33%, a família Lindenberg, 20%, e outros investidores, o restante. A família do fundador deixou de ter o controle da construtora no fim dos anos 90. A holding LDI foi criada em 2007.

Adolpho Filho, hoje com 58 anos, entrou na empresa em 1981, depois de ter crescido visitando obras e vendo terrenos com o pai. Filho, neto, bisneto de Adolphos, não tem pressa de abrir mão do leme. Deixa claro, porém, que será substituído por seu filho, também Adolpho, que trabalha na empresa. O neto é o representante da sexta geração da família chamado Adolpho. (colaborou Carlos Prieto)

Valor Econômico | 18.03.2014

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