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Realizador de sonhos

Confira a entrevista que Adolpho Lindenberg concedeu ao Jornal de Piracicaba:

Um dos construtores de alto padrão mais respeitados dopaís, poderia ser confundido com um avô, um professor, um médico querido da família ou — como de fato é — aquele que realiza sonhos em grandes proporções. Adolpho Lindenberg, 83, é daqueles profissionais apaixonados pelo que faz e que não precisa de entrelinhas para ensinar. É direto, transparente sem perder a gentileza dos grandes homens de valor. Não tem discursos ou teorias pré-definidas e faz dos seus princípios práticas diárias junto aos seus funcionários, desde o mais alto executivo da sua empresa até os serventes de pedreiro, muito dos quais foi ‘compadre’ nos casamento. Ele não chegou a Piracicaba impulsionado apenas pelo bom momento do agronegócio e do boom imobiliário. Veio porque era “quase uma obrigação” reconhecer seu valor e presentear-lhe com empreendimentos de alto padrão de qualidade. Lindenberg éum exemplo de que o sucesso baseado em princípios e valores inegociáveis é possível sim, principalmente quando se coloca o respeito às pessoas à frente de qualquer interesse comercial.

Um da coisas que se diz muito do seu trabalho é que o senhor tem uma linha conservadora. Mas, no final das suas obras, vê-se que na verdade o senhor é de vanguarda. Como o senhor vê esta análise um pouco contraditória do que realmente é seu trabalho?

Na verdade, a vanguarda está no nosso relacionamento com os empregados da empresa, antes das leis trabalhistas dificultarem a possibilidade de permanência dos empregados por muito tempo nas empresas. Sempre procuramos fazer reuniões sociais com os empregados. Celebramos na cobertura dos edifícios como uma festa de congraçamento entre os compradores das unidades e quem construiu o prédio. Eu os recebo na empresa quase como se fossem amigos. Eu sou padrinhos de filhos deles, visito- os quando estão doentes, procuro facilitar a vida deles, de modo que principalmente entre os mestres de obras, construímos um patrimônio que é a família dos mestres de obras da construtora. Algo que nenhuma outra empresa fez.

O senhor acredita que, de certa forma, esta relação refletiu no padrão de qualidade de seus imóveis?

Não tenha dúvidas. Porque com este grupo de empreiteiros, posso me orgulhar. O melhor grupo de mestre de obras que existe em São Paulo é o nosso. Um dos lemas que temos na construtora é o seguinte: uma obra, se tiver um bom engenheiro e um mal mestre, fica mal-acabada. Mas se tiver um mal engenheiro e um bom mestre, pode ficar muito boa, porque o mestre é a figura mais importante da construção. Vocês vão verificar quando construirmos aqui, que o mestre e seu pessoal serão de primeira linha. São pessoas que trabalham há muito tempo com a gente. Nós podemos fazer economia com tudo, menos com mão-de-obra de chefia.

Como começou o ‘namoro’ com Piracicaba?

Piracicaba sempre foi considerada no país a liderança do agronegócio, que despontou como principal riqueza há poucos anos. Reconheço que sua posição de liderança no Estado de São Paulo é colossal. Graças à escola (referindo-se à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) formou-se uma elite capaz de fazer estas grandes aberturas de novas fazendas, novas usinas e novas criações de gados. Tudo nasceu aqui em Piracicaba. É quase uma obrigação nossa valorizar esta cidade.

Foi neste setor que se focou a análise para definir que aqui seria um bom mercado para prospectar novos negócios de alto padrão?

Exatamente. Estudando e analisando o crescimento da cidade, o crescimento do agronegócio, a coisa se confirmou. As pesquisas foram a chancela final, culminando no sucesso de venda.

Esta pesquisa começou há quanto tempo?

Estamos planejando vir para cá há mais de um ano. Antes de entrar em qualquer cidade, começamos a conversar com os principais atores sociais para identificar se é o melhor

momento para chegar, além das pesquisas. Aqui foi muito positivo, a cidade nos recebeu com muito carinho, simpatia. Entre nós e a cidade foi uma empatia muito grande.

O senhor tem mais de 50 anos de experiência nesta área e desde o princípio optou por imóveis da alto padrão, mesmo numa época em que a economia brasileira não estava tão otimista quanto nos últimos anos. O que foi determinante para esta opção?

Em 1960, quando teve início nossa atividade, ocorreu um fenômeno muito curioso. Na cidade de São Paulo, onde se morava habitualmente em casas, em bairros como Jardim América, Europa, Cidade Jardim, começo do Morumbi e Alto do Pinheiros, a população começou a refluir para o centro, para morar em prédios. Isso aconteceu por vários fatores. Primeiro pela segurança. São Paulo deixou de ser uma cidade bucólica para se tornar uma cidade grande. O crescimento trouxe todos os problemas das grandes cidades, trânsito ruim, difícil, insegurança, dificuldade em ter empregados domésticos. Todas aquelas mansões começaram a ser abandonadas pelas famílias para morar em apartamento. E nós lançamentos em São Paulo o sistema de acabamento sob encomenda. Foi um pioneirismo, um sucesso colossal. Começamos a lançar os prédios e um atrás do outro começaram a ser vendidos.

E que características conquistaram esta clientela?

Achamos que o bom acabamento não depende do tamanho do apartamento. Você pode fazer um apartamento maravilhoso num imóvel de 70 ou 100 metros quadrados. O importante é ser de boa qualidade. Moro num apartamento que tem 200 metros quadrados e estou muito satisfeito com esse tamanho.

Na capital paulista, as obras começaram em Higienópolis, que tinha este perfil?

Sim, depois fomos para os Jardins, fizemos a rua Cristóvão Diniz, que tem todos os prédios feitos por nós, ligando as ruas Estados Unidos a Barão de Capanema. São seis prédios, todos da construtora, entre outras obras. E de São Paulo a empresa se espalhou pelo país. Nós já fizemos obras na Bahia, em Manaus, o hotel Tropical, e no interior de São Paulo, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Campinas, Presidente Prudente, Santos, onde fizemos mais de dez prédios.

Nesta trajetória, que obras o senhor destaca?

O Hotel de Manaus era uma obra na fronteira do Brasil. Naquele tempo era uma zona muito primitiva, muito pobre, padrão de vida baixíssimo e tivemos experiências humanas muito curiosas e diferentes trabalhando com aquele pessoal de Manaus. E eu acho que o fato de termos construídos lá foi uma espécie de escola para os empregados que trabalham na construção civil. Eles eram muito mal alimentados, não tinham instrução nenhuma. Nós começamos a obra construindo um dispensário para, durante três meses, fortalecer este pessoal para que tivessem capacidade de trabalhar. O dispensário era maior que a instalação da obra. Até em termos de formação de mão de obra, fizemos uma verdadeira escola. Depois começaram outros prédios lá. Fizemos outro importante em Santarém, no Pará, uma experiência muito interessante. O pessoal era tão pobre que arrancavam as guias das ruas para transformar em pedregulho para colocar nas obras. Fui falar com o prefeito e reclamar disso e ele me disse para fechar os olhos, por conta da situação de pobreza. Então o hotel foi construído com guias de pedras que os portugueses trouxeram do século 16.

A preocupação do senhor com a relação humana é muito forte.

A relação humana é um conselho que eu dou para todos os jovens. O relacionamento humano é mais importante que a riqueza, que a organização. Hoje em dia, a gente vê as bibliotecas cheias de livros sobre organização. Pode ser válido, mas o importante é estabelecer um grupo de trabalho no qual você tenha uma relação familiar, um relacionamento de amigos. Aí você tem um núcleo duro capaz de enfrentar todos os problema e dificuldades.

Como o senhor vê o problema de falta de mão de obra na construção civil?A sua empresa passa por este problema?

Vejo isso como uma coisa muito benéfica. Há uma elevação do nível de vida do pessoal da construção. Antigamente, os serventes ganhavam uma miséria. Moravam na obra porque não tinham dinheiro nem para pagar uma pensão para morar. Hoje em dia já moram melhor, em cômodos próprios, se vestem e comem muito melhor. Neste últimos 50 anos houve uma melhora substancial no padrão de vida do trabalhador da construção.

Mas sua empresa, que exige a qualidade, não sentiu esta falta de mão de obra na base, nas funções abaixo dos mestres de obras? Qual a alternativa para manter estes bom funcionários?

Temos que subir os salários, segurar funcionários, oferecer boas condições, dar prêmios, dar todos os incentivos possíveis para manter o trabalhador. Outra coisa importante é manter o nível de educação e respeito entre as várias categorias. Nós não admitimos em nossas obras palavrões,agressões,cartazes pornográficos nas paredes, exigimos que todos se tratem de senhor…

Ou seja, a relação familiar se estende nas relações da obra?

Isso dignifica o trabalho e resulta num estilo de funcionário elevado.

Neste sentido, a qualidadenão é uma apenas característica diferencial de suas obras?

É uma consequência. Desde meu tempo de construção eu priorizei isso. Gosto muito de detalhes, acabamento, me dá muito prazer, gosto do estilo clássico, mesmo contemporâneo, desde que bem acabados, o que nem sempre acontece. Tenho prazer em visitar obras quando estou viajando, no Brasil e exterior, conversar com engenheiros, aprender. Para mim é um hobbie.

Esta paixão pela construção veio da infância?

Minha família é uma família de médicos. Eu mesmo tentei ser médico e cheguei a frequentar por seis meses os corredores da Santa Casa, como auxiliar do meu pai, isso aos 18 anos de idade. Mas ele me mandou para fora do hospital, disse que não era minha especialidade. A construção como profissão surgiu naturalmente. Sempre gostei de construção e comecei a estudar engenharia no Mackenzie, trabalhei três anos como engenheiro hidráulico da Light. Mas como eu gostava mesmo de construção, comecei a reformar casas e reformei muitas de fazenda no interior do Estado. Tomei gosto pelo estilo colonial e clássico. Fiz muitas reformas aqui na região

Esta escolha pelo alto padrão há 50 anos foi uma crença no país. O que o Brasil lhe dava que o senhor tinha certeza de que valeria a pena investir em alto padrão?

São Paulo era um dínamo, apesar dos problemas. A gente sentia a cidade brotar do chão. Chegamos, no fim da década de 60 e começo de 70, a ter 30 prédios em construção ao mesmo tempo.

Foi um desenvolvimento o maior do que o visto hoje?

Foi muito maior, na época do milagre brasileiro, antes da crise do petróleo.

O senhor tem interesse em obras públicas?

Não, é uma regra da empresa. É outro sistema, outra psicologia, outra mentalidade.

O que o senhor espera de Piracicaba?

Estamos lançando um empreendimento grande, com três prédios e estamos avaliando a capacidade de absorção imobiliária. Conforme for, vamos ficar por aqui.

Há possibilidade de ampliar os investimentos?

É construindo um prédio que você entra em contato com a população. Conversa com as pessoas, compradores, financiadores, jornalistas, trabalhadores. É quando você sente a pujança da cidade. Não é matemática, é sexto sentido.

Vendo este desenvolvimento imobiliário, o senhor acredita no que dizem os especialistas quanto à bolha imobiliária e a saturação do mercado?

O interior de São Paulo tende a crescer naturalmente. Tenho a impressão que a cidade de São Paulo já atingiu seu crescimento. Qualquer crescimento maior trará mais problemas. Acho que o futuro está nas grandes cidades do interior como Campinas, Piracicaba, Ribeirão Preto, Sorocaba, Santos. O futuro está aqui.

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