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Você sabia? Piracicaba foi uma das primeiras cidades a receber imigrantes europeus

Imigrantes europeus substituíram trabalho escravo antes da abolição 

 

O Brasil é repleto de diversidade cultural e étnica, e Piracicaba não é exceção. Composta por povos originários, negros e portugueses, a cidade se tornou lar de imigrantes de diversas partes do mundo, incluindo países do Oriente, Ásia e Europa. Documentos revelam o papel pioneiro da cidade ao acolher famílias imigrantes, com o intuito de substituir a mão de obra escrava por trabalhadores em busca de novas oportunidades. A Frias Neto Consultoria de Imóveis traz, nesta série sobre a história da cidade, mais um capítulo, desta vez sobre como os imigrantes europeus transformaram a cidade de Piracicaba

Os imigrantes europeus foram os que receberam maior incentivo para vir ao Brasil e, consequentemente, a Piracicaba. Apesar dos grandes desafios, as famílias conseguiram se unir para superar as dificuldades da língua, exploração do trabalho e adaptação a uma nova cultura, deixando assim também as suas marcas na cultura e história local.

Na Revista do IHGP (Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba), número 24, de 2018, a imigração é um dos temas centrais. A publicação aborda a ocupação do Brasil pelos portugueses, seguida pela chegada dos espanhóis, italianos, sírio-libaneses, japoneses e tiroleses. A revista também trata da presença quilombola na região.

Conforme detalhado por Aracy Duarte Ferrari na revista do instituto histórico, os portugueses estavam presentes no Brasil desde o início da colonização. O povoado de Piracicaba, que pertencia a Itu, foi fundado em 1º de agosto de 1767. Com um rápido progresso, a região foi elevada à vila da Nova da Constituição em 1821 e tornou-se cidade em 1874.

A cultura da cana-de-açúcar atraiu muitos portugueses para a região, representando a maior corrente imigratória entre os anos de 1908 a 1929.

Os primeiros italianos chegaram ao Brasil em 1819, como exposto no artigo de Olivio Alleoni para o IHGP. O governo brasileiro incentivou a imigração como forma de substituir a mão de obra escrava negra.

Segundo estimativas de Alleoni, dos 832 mil italianos que chegaram ao Brasil entre 1861 e 1900, cerca de 0,5% deles vieram para Piracicaba, totalizando cerca de 5 mil pessoas. O bairro Vila Rezende se tornou um reduto de italianos no final do século 19. A Società Italiana di Mutuo Soccorso foi fundada em 1887 com o objetivo de ajudar os imigrantes italianos que chegavam à região em busca de trabalho e oportunidades, uma vez que muitos deles se depararam com mentiras e exploração.

 

Pioneirismo: substituição da mão de obra escrava

No final do século 19, de acordo com o pesquisador José Eduardo Hefling Júnior, a Fazenda Ibicaba (localizada na Freguesia de Limeira, pertencente à Vila Nova da Constituição) procurava resolver seu problema de mão de obra. O Brasil estava enfrentando cada vez mais pressão para abolir a escravidão.

Nesse contexto, o senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro contribuiu para a imigração de italianos para fazendas de café, como a de Ibicaba. Esse movimento ocorreu antes da abolição da escravatura, em 1888.

O site da Câmara de Vereadores de Piracicaba destaca o pioneirismo regional na busca por soluções relacionadas ao trabalho escravo: “Documento do acervo histórico, datado de 12 de setembro de 1891 (…), demonstra o quanto Piracicaba, então Vila Nova da Constituição, empenhou-se junto ao governo de São Paulo no fornecimento de casas próprias que servissem de hospedaria para acolher os diferentes grupos de imigrantes pelo Estado, principalmente aqueles oriundos do continente europeu, que o Brasil recorreu para substituir a mão de obra escrava, como italianos, alemães, suíços, japoneses, além de outros povos que ocuparam as terras antes habitadas por africanos, que, livres em seus países de origem, foram escravizados por séculos pelo mundo afora”.

 

Outros imigrantes

No caso dos espanhóis, conforme Ivam Galvão relata na revista do IHGP, entre o final do século 19 e o início do século 20, a Espanha estava sofrendo com a pobreza. No entanto, o Brasil incentivava a imigração, subsidiando a vinda de europeus. Os primeiros imigrantes hispânicos chegaram a Piracicaba na década de 1890.

A imigração japonesa para o Brasil também ocorreu a partir do sonho de prosperidade a partir do trabalho e da terra. O Japão estava passando por um rápido crescimento populacional, por isso, precisava encontrar um lugar onde sua população pudesse prosperar. Deste modo foi feito um acordo entre Brasil e Japão, conforme explica Toshio Icizuca, na na revista do IHGP. “(…) em 1908, o navio Kasato Maru chegou ao porto de Santos, o primeiro navio destinado exclusivamente ao transporte de imigrantes, trazendo 781 pessoas, a maioria delas procedente da ilha de Okinawa”. Outro navio, o Hakata Maru, atracou em Santos dez anos depois, em 1918, trazendo 250 pessoas, das quais 30 famílias vieram para Piracicaba. Outro grupo, com 10 famílias, chegou em 1925.

Entre os imigrantes que mantêm tradições originais até hoje em Piracicaba estão os tiroleses, que vivem nos bairros colonizados por suas famílias: Santana e Santa Olímpia. 

Os primeiros tiroleses chegaram ao Brasil entre 1857 e 1933, vindos de uma região histórica da Europa, que inclui atualmente o Estado do Tirol, no oeste da Áustria. As famílias que chegaram a Piracicaba são originárias de Trento, sendo também chamadas de trentinos. Segundo João Luis Franchi, na revista do IHGP, mais de 78 mil austríacos vieram para o Brasil. A colônia mais antiga foi fundada no Espírito Santo em 1857, enquanto a colônia em Piracicaba data de 1893. A busca por trabalho na lavoura foi um forte atrativo para a imigração dessas pessoas.

Por fim, a colônia de sírios e libaneses em Piracicaba é uma das mais antigas entre as comunidades de imigrantes que se estabeleceram na cidade. Os primeiros imigrantes dessa região chegaram na década de 1850 para trabalhar como mascates (vendedores ambulantes). Estima-se que entre 1860 e 1940, cerca de 100 mil sírios e libaneses emigraram para o Brasil, movidos pelo desejo de uma vida melhor, sem nenhum tipo de incentivo além de sua própria vontade.

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