O renomado paisagista do projeto Lindenberg Timboril, Benedito Abbud, concedeu entrevista para Editora Qual, na publicação de fevereiro deste ano, pela revista “Real Estate & Decor Premium”, onde relata detalhes de seu trabalho e preferências. Confira a matéria abaixo:
São 42 anos de carreira. Como foi sua trajetória profissional?
Na época que comecei a trabalhar na área era muito difícil. A profissão de paisagista praticamente inexistia. Chamavam arquitetos e engenheiros para construir casas e prédios. Depois, chamavam um jardineiro para colocar as pantas no jardim.
Em seguida, tudo mudou e melhorou. Sinto que, por incrível que pareça, a insegurança da cidade deu um grande impulso para a profissão. Com isso, casas e prédios tornaram-se mais fechadas para a rua.
Se por um lado a rua perdeu conectividade com os jardins das edificações, internamente começou a ocorrer um fato interessante. As pessoas começaram a ficar preocupadas com as crianças saírem. Com isso, edifícios residenciais passaram a ser murados e gradeados. Daí, a partir da década de 1980 surgiu a possibilidade de trabalhos para que crianças e adolescentes pudessem ter uma vida melhor.
Neste momento, já que o empreendimento estava fechado, comecei a vender a ideia de proporcionar a melhor qualidade de vida possível para os moradores. Isso deu muito certo. Hoje em dia, não se faz mais empreendimentos sem um profissional nessa área de paisagismo.
Como surgiu seu interesse por Paisagismo?
Surgiu no primeiro ano da Faculdade de Arquitetura na USP, quando iniciei meu trabalho em um escritório de Paisagismo como estagiário. Foi quando descobri o que é o Paisagismo. Comecei a perceber que é uma coisa espetacular, que podia trabalhar com a cidade , bairros, ruas, condomínios, calçadas. Vi que poderíamos ganhar uma cidade menos árida, como São Paulo sempre foi, uma cidade mais humana e com mais natureza. Tudo isso começou em 1970.
Quais foram as suas maiores influências e ou inspiração?
Costumo dizer que tenho influência de dois Robertos. A maior influência que tive foi o Roberto Burle Marx, que já tinha vários projetos importantíssimos e trabalhava fortemente no Rio. Quando comecei a estudar, vi as obras de Burle Marx de forma mais sistemática. Ele sempre enaltecia as espécies nativas.
E também Roberto Coelho Cardozo, que foi professor da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo). De origem portuguesa, ele estudou nos Estados Unidos com arquitetos paisagistas californianos que na época eram os paisagistas de ponta no mundo. Quando cheguei na faculdade ele estava saindo. A pessoa com quem trabalhava, Luciano Viáfora, atuou com o Cardozo por muito tempo e tinha grande influência dele.
Para a concepção de seus projetos, quais são suas principais inspirações?
Procuro trabalhar fortemente o todo. A inspiração do trabalho também vem muito do local, da forma como as pessoas gostam de usar aquele espaço e até o aspecto cultural. Por exemplo, se fizer um projeto na região de Minas Gerais ou Brasília, coloco um local ideal para jogar peteca. Lá, eles adoram este jogo, mas em São Paulo não terá a mesma repercussão.
Se coloco uma piscina em Manaus, vou iluminá-la. Eles gostam muito de usar piscina à noite porque o lugar é muito quente. Já em Curitiba, se incluir uma piscina no projeto a tendência é ser coberta e aquecida porque lá faz muito frio e as pessoas não usam tanto.
Em Porto Alegre, as pessoas gostam de fazer churrasco ao ar livre. Elas gostam de cozinhar no espaço externo, algo que somente agora está acontecendo no Brasil inteiro. No Nordeste é preciso organizar as coisas de uma forma mais agradável para se usar o espaço externo, já que é muito quente.
Procuro compreender culturalmente como as pessoas entendem o espaço. Há também o tipo de padrão do empreendimento, como será usado o jardim, enfim. O cliente me dá muito a diretriz principal para sairmos do papel em branco com os pontos para trabalhar.
O projeto é muito ligado à vida das pessoas. E a qualidade de vida é o aspecto mais importante para as pessoas. Por realizo os projetos muito moldados às pessoas.
Como define seu estilo e trabalho?
Definiria como espécie de alta-costura, ou seja, feito sob medida para cada cliente. Os menos favorecidos também tem oportunidades. Realizei trabalhos para CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), empresa que cuida de casas populares. Trabalhei para todos os bolsos , cada um tratando com muito carinho.
Na sua opinião, quais são os aspectos mais importantes para um projeto?
Contribuir na melhoria da vida urbana e ambiental. Melhorias como lazer, natureza, fazer com que as pessoas se relacionem melhor com a parte externa. A melhora da qualidade urbana é feita através da vegetação, que evita a formação de ilha de calor, que dá perenidade ao solo evitando enchentes durante das chuvas. Há tempestades de poucos minutos, mas que fazem grandes estragos. Por isso, a vegetação é fundamental.
Como foi a concepção do Tec Garden e como se sente por este projeto ter sido premiado?
Me sinto muito bem! É uma felicidade muito grande. Na verdade, o Tec Garden é um produto que retém água da chuva e ao mesmo tempo reusa esta água para irrigação, através da capilaridade, sem bombas e sem energia. O Tec Garden é um sistema de plaqueamento com piso elevado para jardim sobre lajes. Pavios que suportam as placas criam um vão para o reservatório de água. É um produto inteligente e simples. Ele é permeável. Pode-se pavimentar o piso sem impermeabilizar.
De todos os trabalhos que já realizou, quais mais destaca?
É difícil. Temos mais de 5,5 mil projetos. Mas, gosto muito dos projetos públicos como o Parque Paulistânia, no Itaim, que é um verdadeiro oásis para todo bairro. O local, que antes as pessoas não chegavam perto por ter sido uma área degradada, virou um espaço agradável.
Outro projeto que gosto muito é o Parque Jefferson Peres, em Manaus. Vê-se o uso da água do Rio Negro em todo o projeto. Já a Praça Victor Civita, em Pinheiros, é uma praça de sustentabilidade que nos faz muitas perguntas. Não é apenas um local de lazer, e sim de entendimento.
O que poderia ser feito em São Paulo para tornar a cidade mais saudável e agradável de se viver?
As calçadas seriam um bom começo para fazer a acupuntura paisagista em São Paulo. Se a questão das calçadas e do sistema viário da cidade fosse melhorada, daríamos um enorme passo.
É importante que o sistema viário seja bem tratado para tornar mais saudável e bonito. A beleza é fundamental.
Um exemplo é o Metrô, que é bastante cuidado e se tornou um dos mais bonitos e bem tratados do mundo. Quando se tem uma coisa bonita que todos entendem que é boa, vão cuidá-la. Quem ama cuida. Amar a cidade vai torná-la boa.
O tema “sustentabilidade” tem ganhado notoriedade nos últimos anos em todo mundo. Na sua opinião, quais princípios sustentáveis poderiam ser adotados nas principais capitais brasileiras?
Esta questão da sustentabilidade é fundamental. O revestimento de muros com vegetação e tetos verdes são coisas boas. O Tec Garden tem um papel importante para tetos verdes. Em construções populares criamos uma proposta de trepadeiras que cobrem os prédios. No inverno caem as folhas, permitindo que o sol bata nos edifícios e forneça calor.
No verão acabam revestindo os edifícios, protegendo do calor. Esta medida é muito sustentável sem nenhuma tecnologia a custo zero. Não tenho nada contra tecnologia, mas muitas vezes são caras e de aplicação mais complicada. Gosto de trabalhar com sustentabilidade, com soluções muito simples.
Quais as tendências na arquitetura e no paisagismo?
Buscar melhorar a qualidade de vida das pessoas e melhorar a qualidade ambiental das cidades. Essa é a preocupação constante.
E as perspectivas de seus projetos para os próximos meses?
Há uma das coisas que me deu muito orgulho de participar. Quando o Rio de Janeiro foi escolhido para sediar as Olimpíadas, participei com projetos de paisagismo de várias regiões. Vamos trabalhar no projeto Vila dos Atletas. É um trabalho que já está sendo traçado e desenvolvido. Uma coisa que gosto muito é trabalhar com questões sociais, trabalhos relacionados à habitação de baixo custo e até alto custo também.
Tudo o que melhora a qualidade de vida. Projetos para famílias e também para quem vive sozinho para que possa se sentir bem, se relacionar.
Lindenberg Timboril por Benedito Abbud
Sofisticação, qualidade de vida e muito verde foram os pontos de partida para elaborar o projeto paisagístico do Linderberg Timboril, o novo empreendimento da Linderberg que decidiu unir duas histórias: a da incorporação e de Piracicaba. Com toques de requinte, o projeto paisagístico do Lindenberg Timboril se destaca logo na calçada, chamando a atenção pela sustentabilidade através do uso do piso drenante e pela integração com o recuo verde sombreado por grandes árvores nativas preservadas. Uma imponente portaria conta com porte cochère coberto e controle de acesso. Logo na entrada charmosas praças de chegada adornadas por Cerejeiras Sakura dão boas-vindas aos moradores e visitantes. Seu eixo de acesso cercado por espelhos d´ água, no qual se destacam magníficas Kaizucas ornamentais, proporcionam uma sensação de bem-estar. Na composição dos ambientes ao ar livre, o paisagismo propõe o uso de elementos com muito requinte que agradam o público exigente. Cada detalhe foi pensado para criar uma atmosfera elegante e exclusiva. Espaços planejados para o descanso em contato com o verde. Alamedas ajardinadas conduzem às praças coloridas e perfumadas. Todos esses espaços, ambientados com materiais de qualidade e decorados com mobiliário de madeira e belos vasos dão um toque especial ao jardim. O que torna o Linderberg Timboril um local privativo e agradável para se viver.
Confira aqui:
Excelente artigo!
Adorei esta entrevista com o Sr Benedito Abbud e saber um pouco mais dele.
Parabéns!
Ele realmente é uma pessoa fantástica com projetos fantásticos!