Depois da Hyundai, que constrói fábrica de carros em São Paulo, empresas de vários segmentos negociam instalações no País
O anúncio, na sexta-feira, da instalação em São Paulo da primeira fábrica do conglomerado Doosan, que vai aplicar R$ 100 milhões na produção de máquinas escavadeiras é mais uma indicação da nova onda de investimentos coreanos no Brasil, a mais forte desde os anos 90, quando chegaram as fabricantes de eletroeletrônicos LG e Samsung.
No ano passado, o País recebeu US$ 1 bilhão em investimentos produtivos de empresas da Coreia, um aumento de 688% em relação a 2009, quando somou R$ 132 milhões. A Kotra, divisão comercial do Consulado da Coreia em São Paulo calcula que o País abriga 70 empresas coreanas, muitas delas inauguradas no ano passado, e que mais 100 estudam ou já negociam instalações locais.
O professor de relações internacionais da Universidade Hankuk, de Seul, Hee Moon Jo, diz que “a estabilidade política e o desempenho econômico crescente do Brasil, além de seu grande mercado interno” tem atraído empresas da Coreia a instalarem bases de produção para abastecer também a América do Sul.
Uma característica dos grandes empreendimentos é atrair os fornecedores mais próximos. No rastro da Doosan, a também coreana Dabo Precision confirmou fábrica em Americana, ao lado da cliente, para fornecer maquinário de injeção plástica.
A Hyundai, maior montadora de veículos na Coreia e quinta no mundo, já garantiu ao seu redor sete empresas coreanas de autopeças no terreno em Piracicaba (SP) onde constrói fábrica para produzir inicialmente 150 mil automóveis por ano, projeto de US$ 600 milhões com previsão de gerar 1.500 empregos.
A Myoung Shin (carrocerias), a Hwashim (para-choques, peças para porta e barra de direção), a Hanil (sistemas interiores), a Doowon (ar condicionado), a THN (chicotes e outros itens), a Mobis (partes interiores) e a Dymos (bancos) vão investir, juntas, cerca de US$ 250 milhões e abrir 1.100 vagas.
Soma-se ao grupo que ficará ao redor da fábrica a francesa Faurecia, que já tem fábrica em Limeira, mas instalará linha de montagem de sistemas de escapamento em Piracicaba. Na vizinha Rio das Pedras está em obras a unidade da Samsong que fará cintos de segurança.
O diretor da empresa, Myoungjoong Lee, diz que também fornecerá componentes para a General Motors, assim como a Mando, outra coreana que se instalará em Limeira para produzir freios ABS. A empresa de logística Glovis, que dará suporte à Hyundai, ainda negocia local para instalação.
“A imagem do Brasil mudou muito lá fora e o País tem sido visto como importante player (jogador) mundial, por isso tem despertado o interesse dos coreanos”, avalia Shin Jae Kim, sócia responsável pela região da Ásia do Tozzini Freire Advogados. Foi ela quem assessorou a vinda da Hyundai e da Doosan, entre outras empresas da região.
Celebração em coreano. Além das empresas, a chegada da Hyundai a Piracicaba, com início de produção experimental prevista para o fim do primeiro semestre de 2012, está movimentando outras áreas na cidade de 365 mil habitantes. No início do ano, dois restaurantes de comida típica da Coreia foram abertos e um terceiro está em fase de inauguração.
Um deles é de propriedade de Luiz Lee, coreano que está no Brasil há vários anos. Ele atua em São Paulo na área de importação e exportação de eletrônicos e viu uma nova oportunidade de negócio. O outro restaurante, batizado de Lago Asul (sic), também pertence a famílias coreanas que já viviam no Brasil.
Para atender as famílias coreanas que estão se mudando para a cidade, principalmente de executivos que comandam as instalações das fábricas, um pastor da igreja presbiteriana veio da Coreia e todas as manhãs de domingo faz celebrações no idioma natal.
O prefeito de Piracicaba, Barjas Negri, confirma o efeito em cadeia que a montadora está provocando, mas nega que o município vá abrigar o que alguns chamam de “cidade Hyundai”, um conglomerado com infraestrutura própria para anteder os empreendedores coreanos. “Isso é lenda”, diz. Ele afirma que vários cursos profissionalizantes em parceria com o Senai e a Fatec estão sendo abertos para preparar mão de obra.
O terreno onde a Hyundai e alguns fornecedores estão se instalando foi adquirido pela Prefeitura em 2007 e doado à Hyundai, que também ganhou infraestrutura e isenção de IPTU, entre outros incentivos.
“O terreno abrigava um canavial e, como área rural, não recolhia IPTU”, diz Negri. Ele calcula que a Hyundai vai gerar cerca de R$ 60 milhões ao ano em impostos para o Estado e que 25% do montante ficará com os municípios.
Outro empreendimento inaugurado na cidade no início do mês é o escritório do Demarest & Almeida Advogados, que assessora várias das fabricantes de autopeças. “A proximidade vai facilitar o atendimento”, afirma o diretor Mario Roberto Villanova Nogueira.
Os coreanos também querem aproximação maior com os piracicabanos. Um grupo de 60 estudantes esteve na cidade no mês passado e participou de programas sociais. Também no fim de janeiro, a Hyundai levou ao município o time de futebol patrocinado por ela, o Jeonbuk, para partida com o XV de Piracicaba. O jogo terminou em empate, 2 x 2.
Nova investida. Além dos novos negócios, empresas já consolidadas no País estão ampliando atuação. Na semana passada, em anúncio feito na Coreia, a LG Eletronics disse que construirá no Brasil sua primeira fábrica global de módulos de televisão.
O módulo é um importante componente para TVs com tela de cristal líquido (LCD, na sigla em inglês) e hoje a LG o adquire de terceiros. Depois do Brasil, o grupo também produzirá o item no México e na Polônia.
Segundo a LG, o objetivo é reduzir custos e tirar proveito de isenções tributárias locais. A empresa não divulgou investimentos e nem o local da produção. O grupo tem fábrica na Zona Franca de Manaus, que recebe benefícios fiscais e vai construir uma unidade em Paulínia (SP), em terreno doado pela Prefeitura. A LG promete abrir 4 mil vagas.
Fonte: www.estadao.com.br
Confira cobertura da EPTV Campinas sobre este assunto:
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