O pacotão de medidas tributárias, divulgado na segunda-feira pelo governo, e a alta taxa Selic, definida anteontem na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom), estão deixando o empresariado com os cabelos em pé. Mas como tudo isso se reflete na economia doméstica? Qual o impacto disso na vida do consumidor que vai às compras em supermercados, no comércio da rua Governador ou ao posto de combustíveis?
O impacto é que a economia vai crescer menos, analisa Valdir Iusif Dainez, coordenador do curso de ciências econômicas da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). “E ainda vai haver uma queda no poder de compra real da população, pois ela vai pagar mais pela gasolina e pelos produtos que são transformados usando gasolina ou diesel. Além disso, o aumento do preço da energia elétrica encarece a maioria dos produtos que a usa na cadeia produtiva”, explica.
Em outras palavras, frisa o especialista, essas medidas causam arrocho nos salários, aumento da inflação e queda nos níveis de produção, emprego e renda. “Quem ganha com isso são os rentistas que podem aplicar seu dinheiro com uma taxa de juros maior que o governo que arrecada mais impostos”, avalia Dainez.
Na quarta-feira, o Banco Central se reuniu e decidiu o aumento da taxa Selic, de 11,75% para 12,25% ao ano.
A taxa Selic, explica o economista, é o índice que remunera tanto os títulos a curto prazo do governo (a taxa de juros que o governo paga nos seus títulos de dívida) quanto o valor que os bancos comerciais têm que pagar ao Banco Central para ter acesso às reservas bancárias da união. “Por isso ela é chamada de taxa básica de juros. Quando os bancos comerciais precisam de dinheiro, eles pagam esse mínimo, a taxa Selic. O que eles cobram pelos empréstimos (a correntistas) é a soma dessa taxa básica mais a taxa adicional (o spread)”, esclarece Dainez.
“Assim, ao aumentar a taxa Selic o governo torna o crédito mais caro, o que inibe o consumo e o investimento. Assim, reduz o crescimento econômico e aumenta o desemprego. O aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) tem o mesmo impacto”, afirma o economista fazendo menção a uma das quatro medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, na segunda, 19. O IOF saltou de 1,5% para 3% em operações de crédito. Outras medidas decretadas foram: a incidência de impostos nos combustíveis, que vão gerar o aumento de R$ 0,22 no litro de gasolina e R$ 0,15 no litro do diesel; a elevação da alíquota do PIS/Cofins nos produtos importados; e o decreto que equipara o atacadista ao industrial, no que diz respeito à incidência no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), no setor de cosméticos. Com o pacote de medidas, o governo espera arrecadar R$ 20 bilhões.
ACIPI
Ontem, a Associação Comercial e Industrial de Piracicaba (Acipi) se manisfestou e divulgou que as medidas vão, definitivamente, afetar a economia local. O comércio, a indústria e o setor de serviços serão prejudicados, diz a instituição.
“O atual aumento de tributos e a expectativa de elevação para os próximos meses, com certeza, vão refletir na retração das atividades e na inibição do consumo, o que afeta diretamente o empresariado. Essas medidas serão mais um agravante para a estagnação da economia prevista para 2015, que cresceu muito pouco no último ano”, declara Angelo Frias Neto, presidente da Acipi.
E o aumento da taxa Selic, diz Frias Neto, deve retrair investimentos, diminuir a competitividade e piorar a expectativa de empresários em todo o país. “Além disso, é unanimidade, entre as entidades comerciais que valeria mais os cortes de gastos para controlar a inflação e gerar receita do que aumentar os juros e tributos. O governo vem tomando medidas visando o equilíbrio da máquina pública nos últimos meses, o que culminou na necessidade de aumentar a taxa de juros. E quem paga a conta é sempre a sociedade”, lamenta Frias Neto, citando o pensamento de Paulo Rabello de Castro, autor do livro “O mito do Governo Grátis”.
De acordo com projeções Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a alta da Selic em 0,5% indica que os juros cobrados no comércio e repassados aos consumidores subam 0,81%, chegando a 77,34% ao ano. Já a taxa de juros do cartão de crédito deve ter aumentado de 1,55%. No cheque especial, os juros cobrados pelos bancos passarão de 178,80% para 180,03% ao ano. Para as empresas, a alta da Selic representará um aumento de 0,6% nos juros para capital de giro.