TAXA DE JUROS Especialistas entrevistados pelo JP acreditam que medida deve estimular o consumo interno, além de combater a desvalorização cambial
A redução na taxa básica de juros, a Selic, de 12,5% para 12% ao ano, anunciada anteontem pelo BC (Banco Central), foi recebida de forma positiva e, ao mesmo tempo, cautelosa por economistas e representantes dos setores comercial e industrial de Piracicaba. Do lado do consumidor , o impacto deverá ser pequeno, devido ao distanciamento entre os juros cobrados pelos bancos e o piso estipulado pelo BC.
Segundo o economista Valdemir Pires, o corte da taxa básica de juros—feito pela primeira vez desde 2009 — tem dois sentidos positivos. “Primeiro, é um instrumento de combate à perigosíssima desvalorização cambial, na medida em que ajuda a conter o fluxo de dólares especulativos no Brasil, fazendo com que a nossa taxa de juros fique um pouco menos atrativa em relação a dos outros países. Em segundo lugar, encoraja o consumo interno, uma vez que, com taxas menores, aumentam as possibilidades de investimentos da indústria local e também de compra por parte dos consumidores”, explica Pires, resumindo que “o governo fez uma aposta perigosa, ao mesmo tempo, corajosa, deixando uma luz na escuridão vivida.”
O economista Lineu Maffezoli ressaltou, ainda, a importância da medida para reduzir os gastos do governo com a diminuição da carga dos juros sobre as despesas gerais. “O corte é positivo pelo fato de ir na direção de aumentar o superávit primário em R$ 10 bilhões, como anunciado recentemente”, afirma. Na visão dos economistas Francisco Crocomo e Valdir Iusif Dainez, a decisão foi acertada e teve embasamento técnico. “O BC seguiu firme nos seus propósitos, equilibrando inflação com desenvolvimento econômico”, diz Crocomo.
A expectativa também é positiva para a Acipi (Associação Comercial e Industrial de Piracicaba). “Essa redução deverá contribuir para melhorar o consumo, mantendo a economia local aquecida”, destacou o vice-presidente da entidade, Angelo Frias Neto. Ao mesmo tempo, a pressão inflacionária continua. “O consumo consciente pode ajudar muito a conter a inflação e manter as pessoas com poder de compra elevado”, orienta Pires.
Já na avaliação da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a baixa é insuficiente. “O Copom (Comitê de Política Monetária) demonstrou timidez diante do quadro de arrefecimento da economia doméstica e internacional. Só uma forte redução de juros pode fazer com que o país mantenha o ritmo de crescimento, sem comprometer o controle dos preços”, declarou em nota o presidente da federação, João Guilherme Ometto.
CONSUMIDOR — Levantamento divulgado ontem pela Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) apontou que o consumidor pouco sentirá a diminuição da Selic no bolso. A razão é a distância entre os juros cobrados pelos bancos e o piso estipulado pelo BC. Segundo nota assinada pelo vice-presidente da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira, a taxa média ao ano cobrada pelas instituições financeiras a pessoa física é de 121,21%, provocando uma variação de mais de 800% entre as duas pontas. Para exemplificar, uma geladeira comprada no crediário próprio de uma rede de loja por R$ 1.500 vai ficar menos de R$ 5 mais em conta ao brasileiro se o pagamento for parcelado 12 vezes sem entrada. O consumidor só deverá sentir o bolso mais leve ao adquirir um veículo financiado. Um carro popular de R$ 25 mil parcelado em 60 vezes, por exemplo, com a antiga taxa de juros, de 12,5% ao ano, custaria R$ 47.103. Com os juros a 12% ao ano, o consumidor economiza R$ 435, pagando, ao final, R$ 46.667.
Pires lembra, ainda, que os efeitos do corte da Selic serão mais sentidos pelo empresariado e por investidores. “A medida sinaliza aos empresários a aposta do governo para o crescimento econômico”, afirma.