*Delegação da Fiabci/Brasil
O que era uma percepção se confirmou durante nossa missão empresarial internacional à Ásia, ocorrida em junho por ocasião do Congresso Mundial da Fiabci (em Taichung, Taiwan) e das visitas técnicas a Hong Kong, Coreia do Sul, Abu Dhabi e Dubai. O futuro do mercado imobiliário aponta para o Oriente.
Ladeado por projetos urbanísticos inovadores e empreendimentos que utilizam conceitos modernos de engenharia e arquitetura em meio a elementos simbólicos orientais, o mercado imobiliário da Ásia apresenta hoje uma pujança como nenhum outro do mundo.
Os alicerces desse desenvolvimento, harmonizado com qualidade e inovação, estão fincados em alguns valores que devem servir de modelo para o mercado brasileiro: segurança jurídica, legislação favorável ao empreendedorismo e à livre iniciativa, meritocracia real e de fato praticada, prioridade absoluta à educação, mercado competitivo e planejamento com foco na coletividade.
De início, a modernidade arquitetônica é o que primeira capta a atenção de todos os visitantes. A ousadia dos projetos fez surgir uma série de empreendimentos referência, que se tornaram cartões-postais das cidades. E isso só aconteceu porque o ambiente de negócios é favorável à iniciativa privada e não há tantos entraves burocráticos, o que gera uma competitividade sadia e criativa.
Por outro lado, as leis brasileiras que restringem em demasia o potencial de construção simbolizam as regras que atravancam o desenvolvimento. Em São Paulo, o coeficiente básico de aproveitamento de terrenos, que indica a quantidade que pode ser construída em um local, é na maior parte da cidade igual a um, podendo chegar a no máximo quatro vezes – e com a compra de potencial construtivo, que encarece o terreno. É lógico depreender que menor aproveitamento construtivo de um terreno diminui seu potencial de uso e limita a diluição dos custos. Isso inviabiliza a ousadia no processo construtivo e o País fica sem empreendimentos de vanguarda. Este equívoco, inclusive, poderá ser corrigido na revisão atualmente em curso do Plano Diretor da cidade de São Paulo.
Como comparação, em Hong Kong, o índice chega a 12, enquanto no Bahrein alcança 17. Em Nova York, o coeficiente máximo é de 23 e, em Chicago, é de 12. Basta uma visita a estas cidades para constatar o bom trabalho que elas vêm fazendo, em termos de qualidade de vida para seus habitantes e atração de turistas. Cidades como essas criam arcabouços regulatórios, como Planos Urbanísticos e Diretor, bem estruturados, que favorecem a criatividade dos profissionais e culminam em projetos arquitetônicos ousados.
Outro aspecto que merece destaque – e norte para nós brasileiros – é o planejamento bem estruturado, seguido à risca e potencializado pela facilidade na aprovação de projetos. Na cidade-modelo de Songdo, na Coreia do Sul, por exemplo, nos deparamos com uma estação de metrô já construída e vazia. Estudo errado de demanda? Nada disso. Eles já estão construindo a infraestrutura de transporte para a expansão planejada da cidade.
O argumento para povoar um local construído do zero é outro traço marcante da cultura oriental. O atrativo dessas “cidades do futuro” é a educação, muito valorizada pelos asiáticos, a partir do estabelecimento de universidades de ponta nos projetos. As famílias asiáticas fazem qualquer esforço para proporcionar uma educação de qualidade aos seus filhos – inclusive se mudar para uma cidade nova. Outro fator que impulsiona a inovação asiática é a existência de uma visão de longo prazo, sem influências partidárias. Lá, o Plano Diretor é seguido independentemente do governo vigente – algo essencial para o desenvolvimento sustentável.
Após a missão, a conclusão é que precisamos todos – iniciativa privada, autoridades e sociedade – trabalhar de forma conjunta para não perdermos o bonde da história. Em uma geração, a Coreia do Sul deu um salto estupendo, fruto de muito trabalho e de foco especial em educação. Agora, é trabalhar para que seja a nossa vez.
Fonte: O Estado de S. Paulo