Escrito por Rodrigo Guadagnim – O Rio Pedrense
Dono de uma trajetória profissional respeitável, o arquiteto João Chaddad acumula experiência em vários períodos da Administração Municipal de Piracicaba. De Luciano Guidotti a Barjas Negri, o piracicabano já rodou tanto a Prefeitura que é difícil encontrar uma secretaria pela qual não tenha passado: Obras, Trânsito e Transportes, Governo, Defesa e Meio Ambiente, Ação Cultural são alguns dos exemplos. De 1997 a 2000, quando Humberto de Campos estava à frente do Executivo, atuou como vice-prefeito. Hoje com 75 anos de idade, Chaddad esbanja saúde e não pensa em se aposentar. E nem pode pensar nessa possibilidade, uma vez que sob a sua batuta está a condução do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba (Ipplap), órgão que entre outras atribuições, é responsável pelo desenvolvimento do projeto Beira-Rio, que mudou a cara da orla do rio Piracicaba. Nesta entrevista exclusiva ao RIO-PEDRENSE, ele fala sobre o desenvolvimento da região, do qual Rio das Pedras está incluída.
A prefeitura de Piracicaba vai fazer um novo distrito industrial na divisa com Rio das Pedras. São duas cidades com fortes relações e que, agora, estarão efetivamente unidas. A união residencial e comercial vai ser marcada pelo Shopping do Taquaral e pelo condomínio da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba). Com o novo distrito, as duas se unem também industrialmente. Quais são os benefícios para Rio das Pedras?
Na verdade, esse momento que Piracicaba está passando é muito bom na parte física, social, política. Vai acabar, como já está acontecendo, colaborando com todas as cidades vizinhas. Rio das Pedras vai ser, em parte, uma cidade dormitório, por ser uma cidade tranquila e muito gostosa. Rio das Pedras é uma cidade mais feliz que Piracicaba por ter um anel viário pronto. Já o anel viário de Piracicaba é mais complicado e está sendo construído.
No caso desse novo distrito, qual será sua característica? Quais empresas poderiam vir e de quais dimensões?
Com o aprendizado que nós tivemos [com os outros distritos], nós optamos por transformá-lo em área urbana primeiro, para depois terminar a negociação com os proprietários. A negociação é meio longa. A experiência nos ensinou que devemos fazer terrenos múltiplos de mil metros quadrados. Se o empresário quer uma indústria grande, ele compra dez lotes. Nós vamos fazer isso para que as indústrias menores também possam se instalar, o que deve beneficiar o comprador em Rio das Pedras.
O prefeito Barjas Negri afirmou acreditar que Rio das Pedras será a cidade da região mais beneficiada pelo desenvolvimento de Piracicaba, pelo fato de estar às margens da Rodovia do Açúcar. O senhor pensa da mesma forma?
Sim, vai ser o grande eixo. Rio das Pedras vai ser o foco maior de indústrias. Aquela região onde fica a Manetoni [distrito industrial Augusto Scarassatti] vai encher de empresas, com certeza. É isso que a indústria quer. E no mesmo caminho dentro dessa rota, se chega lá na frente no Uninorte, na Hyundai, no Parque Tecnológico. A estrada do Açúcar vai ser o grande eixo.
Esse novo distrito pode ser um indutor do desenvolvimento urbano de Rio das Pedras, pela facilidade maior de locomoção que o trabalhador teria para chegar ao distrito morando em Rio das Pedras do que em Piracicaba?
Sim. Com o carro dele ou até mesmo de ônibus, já que é uma linha só, sem sinal, uma rodovia expressa. Ele vai chegar rápido no emprego do que se morasse em Piracicaba.
A hipótese de uma avenida ligando as duas cidades pela estrada do Borsato já foi ventilada várias vezes. Com o distrito, a duplicação do anel viário (estrada do Ceasa) e o Shopping da Unimep essa hipótese ganha força?
O prefeito de Rio das Pedras pediu inclusive, um tempo atrás, a nossa opinião sobre uma ou duas opções de ligação. Bom, acho que precisaria da intervenção do governo do Estado. Os dois prefeitos (de Rio das Pedras e Piracicaba) precisariam procurar o governo do Estado.
Sobre o desenvolvimento Rio das Pedras, de certo modo acelerado, qual o seu conselho, a partir da própria experiência?
Como é que estão às coisas por lá? Você ficou sabendo alguma coisa de como está o Plano Diretor? Porque essa é a principal condição de Rio das Pedras agora, por causa de ser a principal beneficiada [pelo crescimento de Piracicaba]. O que é Plano Diretor? É o crescimento ordenado, pensado 40 anos à frente. Então ela precisa disso logo.
Rio das Pedras fez um Plano em 2005 ou 2006 porque todas as cidades foram obrigadas a fazer. Dados os acontecimentos, como a chegada da Hyundai e as outras situações, o senhor acha que esse plano tinha que ser revisado urgentemente já prevendo as mudanças?
O Plano Diretor tem que ser revisto a cada dois anos no mínimo, mas nada impede que ele seja revisto a cada dois meses. O nosso é assim, é uma coisa dinâmica. O Plano Diretor nosso, que foi aprovado em 2006 e posto em prática em 2007, qualquer modificação nele tem que ser aprovada pelo Conselho de Cidade e, depois, pela Câmara de Vereadores, que autoriza.
Acredito que Rio das Pedras não tem Conselho de Cidade.
A Câmara autoriza a modificação. Por exemplo, o [programa] Minha Casa, Minha Vida surgiu com o Lula. O Plano Diretor nosso já estava pronto, então não consta o Minha Casa, Minha Vida. Então toda vez que alguém vai fazer um projeto Minha Casa, Minha Vida, tem que mudar o Plano, alterá-lo, ou seja, uma revisão.
Há quanto tempo atua no poder público?
Estou com o Barjas pela segunda vez; com o Thame estive uma vez; com o Humberto uma vez; e com o Luciano Guidotti lá atrás, atuando na Pinacoteca, na Câmara de Vereadores, na Prefeitura. Trabalhei com o Guidotti no começo da minha carreira, ele era um cara bacana. Depois fui secretário de Obras de Homero Paz Ataide. Esse anel viário que está aí hoje, no passado teórico e não nos detalhes, fui eu quem projetei em 1970. É ele, o próprio anel. Eu já trabalhei com seis prefeitos.
Fora do governo o senhor trabalhou até com o Mario Dedini, né?
A Igreja da Vila Resende foi eu quem fiz. O Mário Dedini pagou e eu fiz. Também os quatro clubes de campo de Piracicaba. Fiz 18 edifícios, sendo 13 em Piracicaba e cinco fora. Fui diretor de escola de engenharia (EEP), professor de engenharia e arquitetura. Sou formado em arquitetura pela Mackenzie. Tenho um currículo grande.
O senhor tem 75 anos, está muito bem e lúcido. Qual o senhor acredita ser o fator determinante para tanta lucidez e disposição?
Acho que a primeira é que eu sempre fui bom no meu ramo. O pessoal me convida muito para dar depoimento. Acho que essa é a principal coisa, a escolha da carreira. Se você escolhe a carreira errada, não viveu. O artista, de maneira geral, é mais sensível do que uma pessoa normal, do que um empresário. Eu gosto muito de pintar, tenho até prêmios, fotografo, canto, já tive orquestra. Arquitetura também é arte. Isso faz com que a pessoa seja feliz. O segredo que eu sempre falo é competência, sempre se atualizar e estudar, e ter humildade, pois o arrogante não vence na vida. O cara metido, nojento, não vence na vida. Ele vai perdendo, perdendo e perdendo. Só aparto briga, não tenho raiva, rancor, perdoo as pessoas. E tem que ter muita atenção com o outro ser humano. Você já olhou na cara do cobrador de ônibus? Do garçom? Do varredor de ruas? Seja gentil com as pessoas, é jeito, a vida tem que ser levada assim. Tem que gostar do que faz.
É praticar a bondade…
Eu fiz um discurso na Câmara outro dia que todo mundo aplaudiu de pé. Eu me inspirei na última hora, era uma homenagem e eu não sabia direito o que falar. Daí eu arrumei um tema: “Solidariedade e fazer o bem por atacado e varejo”, e foi tudo meio que no improviso. O que é a varejo? É você ajudar seu pai, sua mãe, seu vizinho. Existem pessoas que não ajudam ninguém, mas é bom. Você precisa cutucar ele para fazer, caso contrário não faz. E tem aqueles que fazem por atacado, que fazem coisas que favorecem mais de 5.000 pessoas de uma vez só. Por exemplo, quem faz o encanamento de esgoto no bairro novo? Ele está pensando no salário, na vida, e não sabe o bem que ele está fazendo para mais de 500 pessoas ao mesmo tempo, de ter higiene, esgoto, água. Ele está fazendo 500 pessoas feliz, esse é o bem por atacado. Isso vale até para coisas mais simples.
O senhor fez muito bem por atacado junto à administração?
É sempre por atacado que eu faço. Tudo que precisa ser autorizado, é feito aqui, escolhe aqui. O prefeito é comunicado. Sou eu quem explica as coisas para o Conselho da Cidade, depois também explico para a Câmara.
O senhor trabalhou com o Luciano Guidotti e agora com o Barjas Negri. Eu já ouvi algumas pessoas antigas de Piracicaba compararem os dois. O Luciano Guidotti foi um mito. Dá para comparar?
Não dá para comparar. São épocas diferentes, características diferentes. O Luciano, hoje em dia não faria um bom governo porque ele tinha um governo muito pessoal. Ele colocava dinheiro do bolso, desafiava o governo do Estado, não havia tantas leis ambientais naquela época. Então, hoje ele não faria um bom governo porque teria que furar muitas leis.
Qual a virtude que fez o Luciano uma pessoa tão querida? Era o empreendedorismo, o jeito de tratar as pessoas?
Era a visão de futuro de um homem simples. Aparentemente ignorante, mas não era. Ele realmente via o futuro, enxergava e enchia o peito para falar. Por exemplo, o Itapeva [nome do ribeirão que fica sob a avenida Armando de Salles Oliveira]. Foi uma grande obra [a construção da avenida]? Foi, mas hoje em dia não pode mais porque não se cobre mais córrego, por isso que não dá para comparar. Dá para comparar só em uma coisa: a vontade de fazer as coisas. O Barjas tem uma cabeça fantástica.
E qual seria a grande virtude do Barjas que fez dele um líder político com 90% de aprovação [índice baseado no resultado da última eleição]?
Ele consulta muito a população, tem franqueza. Sabe falar “não” quando precisa falar. Tem uma memória fantástica. Uma grande vontade de organizar e a sua formação universitária é muito importante. Acho que dificilmente um médico seria um bom prefeito, até um arquiteto não seria um bom prefeito porque arquiteto é um artista, leva tudo para o lado do sonho. O Barjas não, ele é administrador e economista. Eu acho que é o ideal para ser o administrador de uma cidade. Administrar bem o dinheiro é difícil. Se o Barjas deixar a prefeitura, ele vai deixar tudo redondinho para o próximo prefeito, seja quem for, porque ele sabe o que faz.